Hoje daremos
continuidade ao artigo publicado anteriomente que pode ser acessado no link: http://produzindofrutos.blogspot.com.br/2012/09/a-biblia-foi-feita-por-homens.html. Pedimos sua compreensão
devido ao uso necessário de termos técnicos e siglas que
representam papiros e manuscritos. É preciso lembrar que estamos a analisar uma
polêmica levantada na Academia em torno da originalidade dos textos modernos. A questão é: será que Marcos 1:1 foi adulterado ou estamos diante de um texto fiel aos autógrafos?
Esperamos que no
final deste post possa ficar evidente que Bart D. Ehrmam não foi honesto em
sua análise crítica. E esta verdade será bem notada quando o confrontarmos
com o seu mentor e parceiro em publicações Bruce Metzger. Estudioso este, respeitadíssimo nos círculos de erudição, e com uma postura invejável no quesito moderação e prudência. Elogiado publicamente, pelo próprio Ehrmam, em suas preleções.
O fato é que Ehrmam na ânsia de provar a corrupção dos manuscritos, superestimou, ou melhor, exagerou nas provas.[1] Argumentou com muita contundência, sem contudo possuir um devido embasamento que outorgasse veracidade a sua apologética. Em seu artigo, encontramos por exemplo, as seguintes declarações:
O fato é que Ehrmam na ânsia de provar a corrupção dos manuscritos, superestimou, ou melhor, exagerou nas provas.[1] Argumentou com muita contundência, sem contudo possuir um devido embasamento que outorgasse veracidade a sua apologética. Em seu artigo, encontramos por exemplo, as seguintes declarações:
"Dois dos três melhores testemunhos de Marcos apoia
o texto que omite [υἱοῦ θεοῦ]
(Filho de Deus); esta família de testemunhos, isto é, os manuscritos que omitem
[υἱοῦ θεοῦ] é
diversificada geograficamente; desde que a omissão de [υἱοῦ θεοῦ] ocorre no início do livro, é improvável que seja
acidental e quanto mais curto o texto aparece em testemunhas relativamente
cedo, independentes, e generalizada"[2]
Primeiramente, diferente do que Ehrmam afirma, é
crucial notar que “a variante [υἱοῦ θεοῦ], em português (Filho de Deus), é
encontrada na maioria dos manuscritos antigos e importantes, como por exemplo:
(os unciais A-Alexandrinus, B-Vaticanus, D-Bezae, W-Washingtonianus, אb – Sinaiticus
Corrector e GA 1141) bem como no grosso dos manuscritos posteriores.”[3]
Ainda precisamos mencionar que a ausência de [υἱοῦ θεοῦ] em א Θ 28 al pode
ser devido a um descuido do copista, ocasionado pela
semelhança das terminações dos “nomina sacra”.
A combinação
de B D W que apoia [υἱοῦ θεοῦ] é extremamente forte, por isso
não é aconselhável omitir as palavras. Nas versões que chegaram até nossas mãos, a expressão foi coloca em colchetes, por causa
da antiguidade da leitura mais curta e a possibilidade
de expansão dos escribas.[4]
No mínimo, para que possa haver honestidade na análise documental e na conclusão da pesquisa, deve-se dar
ao Evangelho de Marcos 1:1 o direito de dúvida como Bruce Metzger bem o faz. Ser extremista, quando não há dados suficientes para se posicionar, não é ser corajaso e ousado, e sim, imprudente e sorrateiro. O pesquisador acadêmico não possui a famosa "licença poética" para fabricar resultados e manipular informações.
Saiba que quanto à afirmação
a respeito da diversidade geográfica das leituras que omitem [υἱοῦ θεοῦ] é
parcialmente verdadeira, pois os textos que admitem a inclusão de [υἱοῦ θεοῦ]
são bem mais diversificados geograficamente.[5]
Mesmo que seja preciso
concordar que os erros nos manuscritos são bem menos prováveis de ocorrer no
início de um livro. No entanto, isso não isenta por completo o escriba,
pois um erro poderia ter ocorrido[6] Os
olhos de algum copista podem ter saltado de “ου” no
final de Χριστοῦ para as mesmas letras no final de θεοῦ, omitindo
aquilo que estava no meio, dessa forma pondo de lado υἱοῦ θεοῦ.[7]
Finalmente
é importante declarar que um estudo sério não pode afirmar tão categoricamente a corrupção de um
texto sem levar em conta o prejuízo daquela seção para a inteireza da obra. Pretendo mostrar no próximo post que esta omissão se torna inviável e descabida quando o estudioso abandona
por um momento a Crítica Textual e aprofunda-se na Literatura Textual.
Quero concluir afirmando que é necessário
usar de muito cuidado para definir a originalidade ou corrupção de um determinado texto. Para tal proeza, precisa-se possuir vasto embasamento nos cânones da crítica textual.
Sendo assim, este artigo atesta a originalidade do
texto de Marcos. A expressão υἱοῦ θεοῦ
pertence ao texto canônico”.[8] E não será uma solitária voz acadêmica, inebriada pelo ateísmo, que lançará por terra toda uma tradição textual e uma segurança nos textos preservados.
Até o próximo post, se Deus quiser...
[1] David Hutchison, THE "ORTHODOX
CORRUPTION" OF MARK 1:1. Southwestern Journal of Theology.Volume 48
· Number 1 · Fall 2005. Pages 33 - 48
[3] CARSON, D. A.; DOUGLAS, Moo J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo. Vida Nova, 1997. p. 116
[4] Metzger, B. M., & United Bible Societies. (1994). A
textual commentary on the Greek New Testament, second edition a companion volume to the United Bible Societies'
Greek New Testament (4th rev. ed.) (62). London; New York: United Bible
Societies.
[5] David Hutchison, THE "ORTHODOX CORRUPTION" OF MARK 1:1. Southwestern
Journal of Theology.Volume 48 · Number 1 · Fall 2005. Pages 33 -
48
[6] Ibid.
[7] CARSON, D. A.; DOUGLAS, Moo
J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São
Paulo. Vida Nova, 1997. p. 116
[8]LAMAR WILLIAMSON,
JR. Mark 1:1-8. Expository
Article Interpretation.
Presbyterian School of Christian Education. (ATLAS®)