Não é novidade para nenhum de nós, que muitas pessoas lêem a
Bíblia exclusivamente em busca de erros ou contradições, com a restrita
finalidade de atacar a doutrina da Inspiração tão defendida pelos cristãos. Fazendo
pesquisas rotineiras na internet, me deparei coincidentemente com a seguinte
frase: “Achei uma contradição na Bíblia”. O autor da frase referida estava de maneira
bem enfática declarando que Paulo e Tiago “bateram cabeças” no que se refere à
justificação do pecador. Para este, a referência de Rm.4:1-3 é completamente
oposta a Tg.2:20-24.
Vamos entender melhor esta APARENTE contradição citada
entre estes textos para que não possamos acreditar que esta “pepita de ouro”,
que o autor do artigo na internet confessa ter descoberto, tenha algum valor.
Na verdade quero mostrar que tal afirmação não passa de “ouro de tolo”.
O
propósito de Paulo em Rm 3:9-5:21 é mostrar que o pecador culpado, que não
possui justiça própria, pode obtê-la por meio da fé em Jesus Cristo. No momento
em que o pecador crê, lhe é outorgada a justiça de Cristo, e conseqüentemente,
é declarado justo por Deus.
A base da justificação do pecador diante de Deus é a
justiça de Cristo que lhe é imputada, e o meio pelo qual esta justiça é
recebida, é a fé somente. O ponto que Paulo deseja estabelecer é que os
pecadores são aceitos por Deus, pela fé em Cristo, aparte de todo mérito
pessoal. As obras do homem não têm nada a ver com a sua justificação diante de
Deus. É neste contexto que o apóstolo declara: “concluímos, pois, que o homem é
justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3:28).
Em Romanos, Paulo está escrevendo DOUTRINA, e
tratando da questão de como uma pessoa é levada à paz com Deus. Tiago não está
escrevendo doutrina, e sim examinando qual é a essência da fé autêntica, ou a
evidência da fé justificadora.
Tiago se refere à necessidade das obras em relação à
justificação. “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé
somente” (2:24). Está falando de um Cristianismo justificado diante dos homens
por meio de suas obras, enquanto Paulo em Rm 3:28 se refere ao pecador que é
justificado diante de Deus aparte de suas obras.
A declaração de Tiago de que o cristão, que semelhante a
Abraão foi justificado pelas obras (vs. 21-24), não é contrária a insistência
de Paulo de que o cristão semelhante a Abraão, é justificado pela fé (Rm 3:28;
4:1-5), são afirmações que se complementam. O mesmo Tiago cita Gênesis 15:6 exatamente com
o mesmo propósito que o faz Paulo: mostrar que foi a fé que fez Abraão justo
(vs. Tg.2:23; Rm 4:3ss).
Quero finalizar mostrando um quadro bem elucidativo
sobre a questão:
PAULO
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TIAGO
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Justificação perante
Deus
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Justificação diante
dos homens
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A raiz da justificação
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O fruto da
justificação
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Justificação pela fé
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Justificação para
obras
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A fé como produtora de
obras
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As obras como a prova de
que há fé
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