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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Bíblia foi feita por homens? Parte 3


Este é o último post da série em Marcos 1:1. Aconselho que leia os outros dois anteriores para que possa entender a discussão em sua inteireza. Após já ter feito uma introdução em: http://produzindofrutos.blogspot.com.br/2012/09/a-biblia-foi-feita-por-homens.html e ter tratado sobre a Crítica Textual em: http://produzindofrutos.blogspot.com.br/2012/10/a-biblia-foi-feita-por-homens-parte-2.html, preciso encerrar minha linha de pesquisa com um ponto de grande relevância - A Estrutura Textual.

 Este último artigo tenciona mostrar que não há possibilidade de retirar a expressão “υἱοῦ θεοῦdo versículo um de Marcos, sem prejudicar toda a cadeia de ideias do autor inspirado. Não há como fazer tal omissão sem prejudicar a estrutura literária e teológica. Infelizmente Bart D. Ehrmam caiu num erro crasso em não perceber que os campos de conhecimento precisam está interligados. É o que atualmente classificamos como “Interdisciplinaridade”. Priorizar ou abandonar uma ciência em detrimento de outra, é um quadro típico da arrogância academicista ou da deprimente falência da erudição compartimentada.

A perícope de Marcos 1:1-8 é classificada como uma pequena narrativa de introdução, dentro de uma narrativa maior de ritmo.[1] É de suma importância notar palavras chaves como: Jesus Cristo, Filho de Deus, o caminho, o deserto; pois, muito além de expressões com simples significados, temos a Teologia Marcana, iniciada nesta seção e desenvolvida no restante do livro. Por exemplo: Jesus Cristo, o filho de Deus é o preâmbulo para duas citações posteriores importantes, Cristo em Mc.8:29 e  o Filho de Deus em Mc.15:39.[2] 
 
Esta narrativa introduz o introdutor que profetizou acerca de Jesus - João. E nesta passagem, o Antigo Testamento é o cadeado, e Jesus é a chave para destravá-lo. O menor (João) introduziu o maior (Jesus).  É conveniente afirmar que o evangelista não quer que nos concentremos em João Batista, mas em Jesus Cristo, o Filho de Deus.[3]

Existe mérito em notar a quebra cronológica que acontece nesta perícope. Vê-se que o versículo 1 pertence ao presente dos leitores cristãos de Marcos, “O Evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus”, mas os versículos 2,3 já visão levar os ouvintes e leitores repentinamente para o passado, a muito tempo atrás, para o berço da promessa do precursor.[4] No versículo 4 os ouvintes já são novamente transportados para o cumprimento da promessa veterotestamentária. Assim, observamos uma mudança não apenas temporal, mas também de protagonistas.

No 1 um, Jesus é a ênfase, nos versos 2-4 João Batista é enfatizado. Isto é relevante por marcar um recurso literário chamado Quiasmo do tipo ABCB1A1. O primeiro a ser anunciado, Jesus, o Filho de Deus, é o último a chegar. O segundo anunciado, João o mensageiro, é o penúltimo. O efeito que tal estrutura visa trazer tem algo a ver com João trazer Jesus para o primeiro plano.[5] Jesus é destacado como antecessor de João Batista, apesar de ter nascido posteriormente.  Note a estrutura quiástica da passagem mostrada graficamente abaixo:
 
A. Filho de Deus - vers. 1
      B. Voz do deserto (Terra) - vers. 2,3
                 C. João Batista - vers. 4, 6, 9
      B1. Voz dos Céus - vers. 11
A1. Filho amado - vers. 11
 
Devido este quiasmo fazer parte da estrutura literária da narrativa de Marcos, nota-se a importância de se manter a expressão υἱοῦ θεοῦ no texto original, pois sem ela, as amarras criadas pelo próprio autor do livro são quebradas e o texto perde sua forma.

Espero que estes posts tenham ajudado ao querido leitor a ter uma perspectiva completamente diferente do texto. Note como é importante aprofundar a pesquisa. Não acredite em artigos que tentam denegrir a fé cristã, sem antes ter uma postura inquiridora e responsável sobre o assunto. Que Deus nos abençoe.

 

 



[1] ALTER, Robert e KERMODE Frank. Guia Literário da Bíblia. Fundação Editora da UNESP. 1997. São Paulo. p. 439
[2] Ibid.
[3] SBJT - Southern Baptist Journal of Theology 8:3 (Fall 2004) p. 8 Exegetical Issues in Mark’s Gospel. Robert H. Stein
[4] ALTER, Robert e KERMODE Frank. Guia Literário da Bíblia. Fundação Editora da UNESP. 1997. São Paulo. p. 439
[5] ALTER, Robert e KERMODE Frank. Guia Literário da Bíblia. Fundação Editora da UNESP. 1997. São Paulo. p. 439
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